sábado, 3 de abril de 2010

Paraíso ameaçado

Texto Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

Composto por 36 ilhas, o único município insular do Brasil é baiano. A sede do município, a cidade de Cairu, está situada a aproximadamente 150 quilômetros ao sul de Salvador. A região apresenta uma grande diversidade de ecossistemas e é de uma beleza estonteante.

Em 1992 foi criada a APA (Área de Preservação Ambiental) Tinharé-Boipeba, nome das duas ilhas mais visitadas do município, com o objetivo de preservar todo o rico acervo natural da região. Inserida no Corredor Central da Mata Atlântica, ela é reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera e Patrimônio da Humanidade.

Cairu, sede do município, surgiu durante o povoamento da capitania de Ilhéus e, em 1608 com o nome de Vila de Nossa Senhora de Rosário de Cairu, era uma das mais importantes vilas da Colônia. Foi palco de batalhas sangrentas com os índios Aimorés, habitantes da região. Muitos colonos preferiram habitar as ilhas próximas como melhor forma de defesa dos ataques indígenas. Isso provocou o surgimento de vilarejos em diversos pontos do arquipélago, como Velha Boipeba na ilha de Boipeba e Morro de São Paulo, na ilha de Tinharé.

Na segunda metade do século XVIII, a exploração de madeira e farinha era tão importante que Cairu chegou a contribuir com a reconstrução de Lisboa, após o terremoto e maremoto de 1756. Em 1870, o desmatamento alcançou um nível tão intenso, com lucros tão grandes que, a Coroa nomeou um Juiz Corregedor das Matas para disciplinar o corte da madeira na região. Porém, o controle não surtiu efeito e, vinte anos mais tarde, a Coroa tombou o remanescente da Mata Atlântica.

Esse detalhe demonstra a enorme problemática que continua a ameaçar a região ao longo dos anos. As ilhas sofrem degradação constante através da ação do ser humano. É o desmatamento, a pesca predatória, a caça ilegal e o advento do turismo.

Embora de importância fundamental para a sobrevivência e a própria manutenção econômica, o turismo traz diversos problemas para a região. Dentre esses problemas, podem-se destacar as construções ilegais, que avançam sobre áreas que deveriam ser preservadas e a produção de lixo.

Em breve visita às duas principais ilhas, Tinharé e Boipeba, que contam com maior fluxo turístico, temos, por exemplo, em Morro de São Paulo, a grande ocupação por construções ilegais até beira-mar. Durante a maré cheia, torna-se impossível andar por algumas praias, tal a sua ocupação. São construções de alvenaria destinadas a atender o turista. Já não resta mais espaço para a desova de tartarugas marinhas e, em muitos locais, o mar, em sua luta, tenta resgatar o que lhe tiraram, ameaçando derrubar algumas construções.

Também em Morro de São Paulo, embora fique restrito à periferia da cidade, nota-se que o trânsito de veículos está cada dia mais intenso. Em algumas pousadas, o barulho dos motores já serve como despertador para os hóspedes. Estes carros são, em sua maioria, também dedicados ao transporte de turistas.

Mas é o lixo que aflige todas as ilhas habitadas e, principalmente, as mais visitadas pelos turistas. Na época de alta estação, o número de visitantes faz com que a quantidade de lixo produzida torne-se um problema ainda maior. Não existem números.

No momento tudo é descartado em “lixões”, ou seja, áreas onde tudo é retirado das vistas dos moradores e turistas e depositados amontoados, contaminando o subsolo, matando alguns animais e aumentando a população de outros, como ratos por exemplo.

Existem algumas ações procurando sensibilizar os moradores para o grande problema provocado pelo lixo, bem como alguma reciclagem. Estudantes de turismo e associações realizam anualmente mutirões de limpeza nas praias, mangues e ruas.

Os dados abaixo, sobre o tempo de decomposição de alguns materiais, expõem a grande problemática do mundo, principalmente o de paraísos ecológicos, responsáveis por manutenção de ecossistemas para a prosperidade. Tudo apontando para a necessidade de investimentos, sensibilização e capacitação humana com a finalidade de solucionar o grande problema chamado LIXO.


Alguns números sobre o tempo de decomposição de materiais:
• Isopor não degrada naturalmente
• Lata de alumínio de 200 a 500 anos, e algumas fontes citam até 1000 anos
• Nylon 650 anos
• Plástico aproximadamente 450 anos
• Latas de conserva 100 anos
• Copos de plástico 50 anos
• Madeira pintada 13 anos
• Latas de aço 10 anos
• Chicletes 5 anos
• Filtro de cigarro 2 anos
• Cascas de frutas de 1 a 3 meses

Um comentário:

  1. Nossa sensacional essa matéria.Tão rica em detalhes diversos. Fala sobre a parte histórica, geográfica, a falta de uma política voltada para o turismo, um planejamento de organização escasso, dados sobre o lixo com a sua respectiva reciclagem.

    Muito bom ler uma matéria assim, com essa diversidade de informações abordadas.

    By: Rick Castro F2J

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