Entrevista com Cristina Baumgarten
Chegar à Presidência da Federação Nacional de Guias de Turismo do Brasil (FENAGTUR), foi uma conseqüência do trabalho à frente do Sindicato dos Guias de Turismo da Bahia (SINGTUR), afirma Cristina Baumgarten.
Texto MAGDA KAUFMANN
magdakaufmann@hotmail.com
Guia de Turismo há 27 anos, Cristina não sabe precisar como chegou a este cargo. Acredita que foi uma conseqüência natural do seu empenho e a necessidade de uma organização e representação dos guias junto ao trade turístico. Sua eleição para presidente da SINGTUR, foi em virtude da participação em um grupo de guias da língua alemã, que por ser de número limitado, era bastante unido e conseguia sucesso em diversas reivindicações junto as agencias de turismo. Foi contando com o apoio e estimulo de todos os colegas que foi eleita Presidente da FENAGTUR, cargo que emana muita responsabilidade e no qual, ela conclui: “procuro dar o melhor de mim em beneficio da classe”.
Qual o maior entrave para o turismo brasileiro na atualidade?
Acho que é a falta de vontade política, de encarar turismo como uma atividade realmente profissional e produtiva. Turismo é tratado como folclore, como uma coisa de elite. Creio que ele não é levado a serio pelo governo federal. Continuamos a ter esta coisa da falta de continuidade nas ações. De dois em dois anos muda gestão municipal, federal, ou o que for, o que vinha sendo feito é interrompido e depois recomeça tudo do zero. Até você chegar ao ponto em que estava anteriormente já acabou a gestão.
Qual a contribuição da FENAGTUR para o setor?
FENAGTUR, é uma Entidade Sindical, sem fins lucrativos, criada em 2003, integrante da estrutura do Ministério do Turismo, que agrega exclusivamente os Sindicatos de Guias de Turismo do Brasil. A grande contribuição que a entidade proporciona ao setor é em primeiro lugar o trabalho de organização dos guias de turismo por ser esse um importante segmento dentro de uma realidade pratica. Em segundo lugar ele leva ao trade turístico e para os gestores públicos o retrato do que acontece com o turista desde o momento em que ele chega ao país. Acredito que existe uma distancia entre os projetos, o que se fala do turismo, o que se planeja e o que acontece de verdade no turismo, sendo a FENAGTUR o elo de ligação entre esses pontos.
Quais as expectativas da classe para a copa e olimpíada?
Nós temos certo receio de que não façamos o que deveríamos fazer a tempo e no último momento ter que lançar mão de uma grande maquiagem. Esperamos que o trabalho seja realmente levado a sério e encarado profissionalmente. A cobrança vai ser feita de fora para dentro e vai se estender por mais dois anos após a copa, em virtude das olimpíadas, dando continuidade aos esforços, o que é um ponto muito positivo.
Como alguém pode se tornar Guia de Turismo?
Essa é uma profissão de nível técnico, exigindo segundo grau como pré-requisito. A pessoa tem que passar por um curso de formação de 960 horas em escola profissionalizante e depois se cadastrar no Ministério do Turismo.
Como você avalia a demanda para novos guias?
Com esse movimento de copa e olimpíadas tem se falado de uma demanda em relação a toda mão de obra do turismo receptivo, mas o nível de exigência por parte do visitante tem diminuído. É bem provável que o turista deixe de exigir o guia e a agencia de viagem, passando a usar um serviço rápido como o de um monitor ou um condutor, que proporcione uma visão superficial da cidade. Se não tivermos cuidado com a qualidade do turista que vem nos visitar, todo o setor será prejudicado incluindo o guia que ficará sem trabalho.
Quais as dificuldades que o Guia de Turismo enfrenta no exercício da profissão?
A ausência de uma boa estrutura das cidades, como os itens de segurança, limpeza, estacionamentos entre outras. Falta de se pensar as cidades de destinos turísticos e priorizar o setor, em virtude do mesmo, ser fonte de emprego e renda. Pouca fiscalização dos que atuam no setor é outro problema. Qualquer pessoa que se comunique em algum idioma acredita que pode guiar um turista. Isso traz insegurança ao setor colocando o visitante em risco.
Qual a regulamentação sobre a profissão e como ela é aplicada?
A profissão de Guia de Turismo foi regulamentada em 1993, por lei federal. Exige que o guia tenha credenciamento reconhecido pelo Ministério do Turismo e que durante o trabalho porte a carteira de guia em local visível. O controle do cumprimento dessas normas esta a cargo das Secretarias Estaduais de Turismo que deveriam fiscalizar em conjunto com a Policia Militar, Civil, departamentos de transito, PROCON, e os outros órgãos. Na realidade, não é o que acontece e a fiscalização é extremamente precária. Levamos esse pleito diretamente ao Ministro de Turismo e já obtivemos alguns resultados, como em Alagoas, Sergipe e Paraíba. Esperamos que a fiscalização se torne mais intensa em todos os estados.
O que representa o turismo para o Brasil?
O turismo seria a grande saída para o Brasil ajudando na solução dos problemas sociais com a geração de empregos diretos e indiretos. Mas não pode ser usado como válvula de escape onde se coloca qualquer pessoa. Não se pode trabalhar assim se a meta for alcançar o turismo classe “A”. As pessoas precisam ser qualificadas e tem que haver um projeto para inclusão gradativa.
Qual o papel do Guia de Turismo dentro desse contexto?
Ele é o primeiro contato com o turista e representa toda a cadeia, todo o segmento, o trabalho, e o investimento público. Toda essa realidade esta na mão do guia que é quem passa isso para o visitante.
O que pode ser feito para melhorar a qualidade dos serviços prestados ao turista na Bahia e no Brasil?
Acho que falta educação básica, incluindo educação patrimonial e conscientização da população sobre a importância do turismo. É claro que isso seria a longo prazo. Em curto prazo estão as questões ligadas à segurança turística, o que é fundamental, pois é preciso que haja uma formatação diferente da segurança fornecida a população de maneira geral. Investimentos em capacitação profissional para formar mão de obra apta a prestar serviços de boa qualidade, promovendo aí a inclusão social.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
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