sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A ditadura do carnaval

Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

Semanas antes do carnaval o caos já começa a se instalar em Salvador. O trânsito fica insuportável em virtude do vai e vem de veículos transportando material para tapumes, camarotes, decoração, entre outros. A cidade fica engessada.

Mas, é durante o festejo que o cidadão, residente próximo e na passagem dos trios, é obrigado a abandonar sua casa ou a conviver com o mau cheiro de lixo, dejetos humanos e com o barulho ensurdecedor dos trios. Pessoas idosas ou doentes? Pouco importa. Ninguém pergunta se têm condições físicas, psíquicas ou financeiras para saírem durante uma semana de seus lares. O direito de ir e vir não se aplica aos que residem no percurso da festa.

Eu sempre me pergunto se é justa a ditadura do carnaval. Se não seria possível conciliar a alegria da festa, com o bem estar e o respeito aos direitos do cidadão, os quais são, praticamente, suspensos durante o reinado momesco.

É sempre estranho verificar como tudo tem dois pesos e duas medidas, de acordo com as épocas ou conveniências. Há poucos dias, duas turistas foram abordadas no Porto da Barra por estarem de topless... E o que acontece no carnaval? São seios diferentes?

Um grupo de turistas, no aeroporto do Rio de Janeiro, foi preso e processado por terem ficado de roupas intimas em um canto do saguão, enquanto trocavam de roupa. Foi um verdadeiro absurdo, digno de noticiário nacional e internacional. Quanta moralidade!

O nudismo é diferente durante o período do carnaval? Ou tudo isto é uma grande hipocrisia?

O cidadão deve obedecer leis durante todo o ano. Ele também deve ser respeitado durante todo o ano. Uma festa não pode e não deve motivar a suspensão dos direitos e das leis de uma convivência social. Não podemos admitir que a alegria de alguns se transforme no inferno de outros.

Estranhamente na mídia, só se ouve falar da alegria, da música e só se contabilizam os lucros. A cobertura jornalística não aborda e, parece até temerosa, em colocar para a opinião pública, o outro lado. O lado do silêncio, do sofrimento, dos prejuízos, das mega quantias investidas. Estes são esquecidos, omitidos ou relegados a um segundo plano.

Nem todo comércio pode festejar a passagem do carnaval. Muitos passam por graves problemas financeiros. Vem seus estabelecimentos fechados ou paralisados durante uma semana, em um mês que já é curto. Como fazer frente às despesas fixas?

Acredito que toda essa problemática, dentre outras, deva ser levantada pelos formadores de opinião e colocada para reflexão geral. É preciso enxergar o outro lado da festa. Chega de macro cobertura jornalística, onde tudo é oba-oba.

E, por último não vamos esquecer que o seu direito termina onde começa o do próximo!

8 comentários:

  1. Olha Magda realmente as coisas escritas aqui são reais e tristes. Salvador tem uma beleza natural e isso encanta os turistas. A mídia realmente faz essa "capa" de melhor carnaval do país, quando mistura tudo...pronto!Está completo o carnaval maravilhoso. O carnaval de Salvador precisa ter mais estrutura e ser carnaval mesmo do povo, não essa "coisa" selecionada que estamos vendo hoje. Em Salvador não tem momentos culturais durante o carnaval, só os mesmos aristas com as mesmas músicas e roupas diferentes. Não posso falar que esses artistas não são contagiantes, porque estaria mentindo. Mas é necessário que haja carnaval para todos que quiserem ir ás ruas brincar, pular e se divertir. Agora está surgindo uma ideia de circuito fechado. A segurança vai está toda lá, é claro, e carnaval não será mais uma festa popular, só terá mesmo o nome carnaval.

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  2. Que matéria sensacional, com poucas palavras porém na medida certa. Tudo o que deveríamos ter consciência está aqui muito bem escrito.
    Assistimos o carnaval através da mídia que só faz apresentar a " festa maquiada ", sem mostrar os problemas em todas as áreas que constituem a mesma.
    A parti de hoje estou me tornando um leitor assíduo desse blog. Parabéns e muitas matérias para todos nós.
    Ricardo Filho F2J

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  3. Magda, querida, você sempre nos traz aprendizado com os questionamentos que propõe.
    O texto e a escolha do tema, estão ótimos! Como sempre bem escrito e trazendo à tona o lado pouco ou nunca falado. Ou seja, fazendo a diferença.
    Obrigada por você!

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  4. Muito bem colocado colega. Faço minhas suas palavras. Foi um olhar pessoal, crítico e pertinente sobre a festa.

    Parabéns

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  5. Magda,
    Apesar de gostar do carnaval, concordo plenamente com você. A cidade se transforma para os turistas, mas não se transforma para os próprios baianos. Nesse período tudo muda e a permissividade é absurda. Isso é lamentável. Beijos

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  6. Cara Magda, salve!

    Sem falar nas pesadas energias vibratórias que envolvem a Terra nesse período.

    Saímos de uma energia tão boa do Natal para cairmos nessa...

    Bração e boa $orte,
    Quemel - www.quemel.blog.br

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  7. Olá Magda, seu texto está antigo, mas é sempre novo porque ninguém faz nada e tudo continua igual. Sou de Brasília, mas tenho amigos em Salvador que precisam fugir daí no Carnaval. Repercurti seu artigo no Facebook hoje e já está pipocando compartilhamentos.Parabéns pela percepção e pela ação revolucionária! Um abraço
    IASBECK, luiz Carlos (veja no facebook)

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  8. Me enviaram este texto e discordo. Sou de Salvador e não gosto de carnaval.

    1- O comércio não pára no carnaval. Eles fazem de camarote ou, se não fica de frente pro circuito, abrem pra vender bebidas.

    2- É verdade que muitos não gostam de sair do seu aconchego, mas basta alugar seu ap (por no mínimo 5 mil podendo chegar a mais de 10 mil) por apenas 7 dias.

    3- O direito de ir e vir não é desrespeitado. Tudo mundo pode transitar á vontade. Por uma questão de segurança e organização, pessoas que não possuem residência no circuito tem seus carros barrados, mas podem estacionar bem perto do circuito também. Mas ninguém é impedido de entrar andando.

    4- Realmente a sujeira que fica é grande, mas já na quarta feira de cinzas passam carros limpando com água e vários garis limpando as ruas.

    Em relação ao post, achei que faltou conhecimento. Inclusive em relação aos idosos que até frequentam blocos de marchinhas de carnaval. Lembro muito bem de uma senhora por volta de seus 85 anos na janela do seu apartamento dançando, mandando beijos e acenando.

    Caberia, antes de qualquer crítica, saber a opinião do povo baiano. Não gosto de carnaval, mas não quero que ele acabe. Inclusive, em época de carnaval, eu viajo pq não gosto da cidade lotada.

    O que acho um absurdo é que isto acontece em todo lugar, não só em salvador. O que falar do reveillon no Rio? Mas não vejo ngm criticar, só elogiar. O que falar das micaretas que acontecem durante o ano todo ao redor do Brasil?

    O ponto de crítica é sempre Salvador e o carnaval, que é eleito o melhor do mundo pelas pessoas, não sei pela crítica.

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