Texto Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com
Estava assistindo ao noticiário televisivo em companhia de um amigo muito ligado a natureza. As imagens mostradas entristeciam qualquer pessoa - famílias inteiras haviam perdido tudo, do pouco que possuíam, em mais uma enchente, em mais uma encosta que cedeu. As águas invadiram as residenciais, os comércios e as ruas foram transformadas em rios caudalosos, com carros e pessoas sendo arrastadas pelas correntezas. Famílias soterradas pelas encostas. Construções desabaram. Em uma palavra - chocante.
O repórter enfatizava o fato de o rio haver invadido as casas quando, de repente, um comentário desse meu amigo caiu como um balde de água fria na minha cabeça - “eles ficam acusando o rio e as chuvas de terem invadido as casas. Na verdade foram as casas que invadiram o rio”. É óbvio que era aí que se encerrava o problema, mas, sempre olhamos tudo por outro ângulo – a culpa é do rio. Mas, o rio já estava lá com sua várzea, antes das casas serem sequer sonhadas. Todos sabem disso, ou pelo menos, deveriam saber.
Como é possível que se permita a construção em espaços que com certeza, mais cedo ou mais tarde, podem ser tragados pela terra ou inundados por alguma enchente, mesmo que isso demore 30 ou 50 anos? As enchentes, assim como as secas, são cíclicas e conhecidas pelas autoridades através de seus dados estatísticos. É uma verdade que todos esquecem. Principalmente os órgãos públicos que deveriam cuidar para que isso não ocorresse.
Não existe justificativa aceitável para essa inércia das prefeituras. Temos secretarias especificas, ocupadas por técnicos capazes, ou que deveriam ser capazes, responsáveis pela ocupação do solo, e elas deveriam estar atentas aos locais que podem ou não ser construídos. No entanto, o que vemos, são casas brotando diariamente em espaços inadequados, sem qualquer técnica ou estudo, onde, de tempos em tempos, vidas são ceifadas, bens materiais são perdidos. Existências são inexoravelmente apagadas, mesmo a dos que sobrevivem a essas catástrofes.
Mas, não obstante tudo isso, para “agradar” ao eleitor, as prefeituras constroem ruas, iluminam, canalizam água e, principalmente, cobram imposto predial territorial urbano de áreas que não deveriam nunca ter sido construídas.
As perguntas que não querem calar são - para que servem as secretarias municipais que deveriam cuidar da ocupação do solo e, quem são os responsáveis por essas tragédias previstas. Até quando vamos chorar os mortos e amargar os prejuízos sem que se procure corrigir os erros e responsabilizar os verdadeiros culpados que são as omissões dos órgãos municipais e não as chuvas, ou os rios.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
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Pois é. Só depois dessa tragédia, quando o Exército foi chamado para ajudar na reconstrução da cidade, resolveram observar esse "detalhe". Então, o responsável pelo reconhecimento da área,afirmou que "a reconstrução seria feita respeitando a escolha que a natureza fez para o novo curso do rio".
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