sexta-feira, 26 de março de 2010

“O fugitivo”

Texto: Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

“O fugitivo” é o título de um filme americano que tem como tema central um médico, representado por David Janssen em sua primeira versão e Harrison Ford na segunda, acusado de estuprar e matar a própria esposa. Mesmo alegando inocência e, sem provas contundentes, ele foi condenado em virtude da apresentação de evidências. Conseguiu escapar da prisão após um acidente de carro que o conduzia e, durante sua fuga, procurava incansavelmente por um homem de um braço só, que afirmava ter visto na cena do crime. Perseguido por toda polícia, tinha um agente em especial que colocou a captura do fugitivo como meta em sua vida. O filme principal foi em seguida transformado em série de televisão dos anos 60.

Na vida real, este drama foi vivido por uma família americana, classe média alta. Eles tinham um filho. O médico nunca conseguiu provar sua afirmação sobre a existência de uma terceira pessoa, que seria segundo ele, o verdadeiro algoz de sua esposa. Ninguém acreditava na versão de um indivíduo ter invadido a casa do casal, estuprado e, em seguida, assassinado a vítima em poucos minutos. Principalmente por se tratar de uma pessoa deficiente física - sem um braço.

O fugitivo, como ficou conhecido, morreu na prisão. Seu filho nunca aceitou a versão da polícia e a condenação de seu pai mas, só conseguiu provar a inocência dele, com o surgimento do exame de DNA. Tarde demais, pois seu pai já havia falecido.

Esse foi apenas um caso famoso, transformado em reality show pela mídia, entre tantos outros anônimos, comprado pelo público por toda sua carga emotiva e representatividade do momento vivido pela sociedade. O médico já havia sido condenado mesmo antes do julgamento. Uma família dilacerada sem chance de se recompor.

Estamos mais uma vez diante de fato parecido. O casal Nardoni. O julgamento ainda não terminou e, na verdade, não importa se serão ou não inocentados. Não quero defendê-los, tão pouco acusá-los. Não me sinto em condições de julgá-los. Quero apenas deixar, plantado em nossos corações, o beneficio da dúvida.

Nada trará de volta a menina Isabella. Essa é a única verdade.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Tem hora pra tudo

Texto Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

Ávidos de informações, ligamos a televisão para assistir a um noticiário. De repente, no meio do programa, aparece um clone de Ana Maria Braga fazendo bolinhos de feijão e de outro alguém mais, comentando a moda da próxima estação.

Fico pensando se é correto, durante um programa que se propõe a passar notícias do Brasil e do mundo, em já escassos 30 minutos, os editores encontrarem ainda, como por milagre, tempo para ensinar a fazer bolinhos de feijão...

Temos, na televisão, 24 horas de programações “light” com espaços dedicados a todo tipo de entretenimento digamos, descompromissados. Porque usar o pouco tempo reservado para situar o povo brasileiro na realidade contemporânea, informando assuntos de grande relevância, com assuntos tão banais? Acredito que as pessoas, ao assistir noticiários, estão à procura de informações que mexem com o mundo e, nem um pouco preocupados com receitas ou moda.

As emissoras de televisão precisam perceber que existe outro público - um espectador em busca de informação séria, dos problemas que afligem a humanidade, do conhecimento geral, da economia, entre outras coisas. Será que não tem mais nada importante acontecendo no planeta, suficiente para preencher este pouco tempo reservado aos noticiários?

Sinto-me frustrada e acredito que, como eu, milhões de brasileiros que, por um motivo ou outro, não dispõem de canal fechado. Considero um desserviço e um insulto a nossa inteligência, preencher esses raros espaços que deveriam estar “recheados” de informações importantes, com futilidades e matérias baratas de gaveta.

Registro aqui meu protesto esperando que, algum dia, o povo brasileiro possa contar com emissoras de televisão preocupadas, de fato, em passar um retrato da realidade, situando a população no espaço e tempo da atualidade mundial. Emissoras preocupadas com a qualidade de sua programação, que tenham consciência de seu poder como mídia e conseqüente responsabilidade social. Esse seria um grande passo para o desenvolvimento do nosso país, cuja população está tão carente de conhecimento.

sábado, 13 de março de 2010

Refletindo sobre “cotas”

Texto Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

Há mais de 10 anos o sistema de cotas para ingresso nas universidades brasileiras é lei e tema de discussão. O assunto se tornou uma grande polêmica, fornecendo estopim para debates calorosos, solicitação de liminares dos prejudicados pelo sistema e, até agora, não existe um consenso sobre o assunto.

A explicação para implantação de cotas não convence e não justifica que, em um país multirracial, a população seja obrigada a definir a que etnia pertence. O que define isso? Porque uma pessoa é obrigada a optar pela raça A, B, C ou D? A quem cabe esta decisão? Quais os parâmetros utilizados para tanto?

Fomos testemunha, através da mídia, de dois irmãos que fizeram opções diferentes e, como premio, o que optou por se declarar negro entrou na faculdade pelo sistema de cotas, enquanto o outro não.

Pessoalmente, considero toda essa situação um desvio do que deveria ser o foco principal do problema: a qualidade do ensino nas escolas públicas brasileira. Esse, sim, é o verdadeiro calcanhar de Aquiles.

Igualdade se faz a partir da educação e não de cotas. Igualdade se faz com oportunidades iguais para todos.

Se todo nosso esforço, ao longo desses mais de 10 anos, fosse voltado para a melhoria da educação, provavelmente, em pouco tempo, seria possível efetivar o sonho da igualdade ou, ao menos, minimizar as diferenças socioeconômicas brasileira. Miséria, pobreza e a falta de oportunidades, não têm etnia, não tem cor. O que tem é a falta de políticas públicas e os respectivos investimentos necessários à educação.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Em defesa de Geni

Texto Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

Geni, figura imortalizada na música de Chico Buarque de Holanda, de certa forma, me lembra a nossa Policia Militar.

Para evitar qualquer especulação, não sou militar, nunca fui, nem tenho parentes na polícia. Simplesmente acompanho com olhar crítico o trabalho, procuro me inteirar dos problemas enfrentados no dia a dia pelos policiais e leio as matérias veiculadas na mídia.

É um misto de revolta por certas atitudes de alguns integrantes da corporação e, o aplauso, pela atuação de muitos outros. Revolta quando temos notícias da truculência, do despreparo e de bandidos que se aproveitam do fardamento para efetuar crimes. Aplauso pela coragem, abnegação, respeito e educação de tantos outros que, geralmente, não são mencionados pela mídia e, portanto, não alcançam o reconhecimento popular.

Hoje, na Bahia, temos aproximadamente 30 mil integrantes da Policia Militar. Dentro desse número de pessoas, existem os bandidos e os mocinhos, em amostragem semelhante á própria população a que eles pertencem. Esses policiais são responsáveis pela segurança ostensiva, salvamentos de pessoas e animais, combate a incêndios, dentre outras atividades.

Nas ruas, a qualquer hora do dia ou, principalmente, altas horas da noite, se você procurar um integrante do poder público, certamente o único provável de ser visto, será um policial militar. É a ele que toda a população, ao enfrentar qualquer problema, se dirige e exige que seja tomada uma atitude.

Infelizmente, o que não atentamos é de como este cidadão fardado vem para as ruas sem um preparo adequado para atender a sociedade. A maioria das pessoas não sabe que um policial militar, aqui na Bahia, vem exercer sua função com apenas 6 a 9 meses de curso preparatório, enquanto que, em São Paulo, o tempo de treinamento é de 1 ano e nove meses. Atirar por exemplo, é algo difícil, de grande responsabilidade, mas, no entanto, o policial recebe uma arma e, na maioria das vezes, pasmem, sem ter efetuado um único tiro.
O que podemos esperar de uma corporação tão importante se nós não exigimos dos nossos governantes que a mesma seja tratada com a atenção necessária? Afinal, nossa segurança e, porque não dizer, nossas vidas estão nas mãos destes indivíduos.

Em vez de cobrarmos apenas do policial, que na verdade é apenas a base da pirâmide, temos que cobrar dos que põem pessoas despreparadas nas ruas com armas na mão. Temos que exigir que a corporação que cuida da nossa segurança seja tratada com o devido respeito.

Temos que exigir que o policial militar tenha treinamento, remuneração adequada e que a policia receba verba necessária para equipamentos modernos. Temos que amadurecer como cidadãos e exigir que sejamos respeitados. Porque o policial militar em São Paulo é mais treinado e recebe remuneração melhor do que aqui?
Somos cidadãos de 2ª categoria?

O que não podemos e não devemos continuar a fazer, é ficar jogando pedras na Policia Militar como se ela fosse a Geni de Chico. Vamos dirigir nossas críticas e reivindicações a quem de direito.