Texto e imagens Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com
Além dos problemas da segurança para combater os furtos e assaltos, a falta de ações sociais, menores dependentes químicos, prostituição entre outros, temos um fato que é de grande importância – a ameaça dos incêndios e desabamentos.
Antigamente os bombeiros faziam ronda periodicamente no Centro Histórico de Salvador. Controlavam os extintores nos comércios, verificavam o tipo de atividade exercida e as instalações físicas dos imóveis, os hidrantes, as vias de acesso entre outros. Há anos nada mais tem sido feito. O batalhão do Corpo de Bombeiros da Ladeira da Praça está esquecido, desestruturado, despreparado e desmotivado.
O Corpo de Bombeiros do centro de Salvador, continua no prédio histórico, com sua estrutura física condenada. Só permanece no local graças a insistentes apelos da sociedade, boa vontade da PM e de um órgão público que providenciou uma estrutura metálica para que a construção não ruísse. É visível a falta de condições de funcionamento estampada, há anos, na sustentação provisória do imóvel.
Se esse quartel sair desta base, os outros se encontram a grande distância do Pelourinho - um na região do Iguatemi e outro na Calçada. Ambos, em caso de sinistro na região, teriam dificuldades de acesso devido ao trânsito intenso e, provavelmente, que quando chegassem o fogo já teria consumido tudo. Principalmente se lembrarmos que as construções antigas têm muita madeira em sua estrutura.
Aliás, a corporação dos bombeiros só é lembrada em caso de sinistro como, por exemplo, o incêndio em 2006 que destruiu o restaurante "Mestiços", na Rua Santa Isabel, transversal da Rua das Laranjeiras, e diversos outros mais atuais. Porém, esse incêndio retrata as condições físicas de acesso e de trabalho dos bombeiros no Pelourinho.
A ocorrência – descrição
Joel Gonzaga, proprietário do restaurante sinistrado, culpa a falta de fiscalização da SUCOM e dos bombeiros. Foi o segundo incêndio no mesmo local em menos de um ano, o que por si só já deveria ter sido um alerta para as autoridades. No segundo andar da casa existia um ponto de reciclagem que acumulava grande quantidade de material de alta combustão como plásticos, papel e outros. Além disso, os fatos relatados a seguir por Joel e outros comerciantes da região apontam a precariedade e falta de preparo na ação dos bombeiros para debelar o fogo.
No dia do incêndio, não havia bombeiros no quartel da Ladeira da Praça, que estava sendo estabilizado com estrutura metálica “provisória”. O carro que veio atender à solicitação precisou se deslocar da região do Iguatemi e só chegou ao local uma hora e vinte minutos após o alerta de incêndio.
O imóvel, uma casa de dois andares, queimou totalmente em seis horas, no dia 6 de dezembro de 2006, em virtude de acessibilidade, hidrantes sem manutenção e falta d’água. O caminhão dos bombeiros enfrentou o forte trânsito do Iguatemi ao Pelourinho. Bateu na Praça da Sé em virtude de veículos estacionados, e precisou passar com uma roda por cima da praça, conforme depoimento de Renner Massa, comerciante estabelecido no local. A Praça da Sé é a única via de acesso a veículos especiais e encontra-se constantemente repleta de carros parados em local indevido. Se um lado da via esta tomado de carros estacionados é impossível o acesso rápido de bombeiros ou Samu, por exemplo, informa Renner.
Ao chegar à Rua Santa Izabel, local do sinistro, o veiculo do Corpo de Bombeiros não conseguiu entrar por causa de uma barreira que deveria ser removível, mas que não conseguiram retirar com rapidez. Os hidrantes mal conservados, no dia desse sinistro, estavam com areia e outros objetos por baixo da tampa de proteção da rosca. Os bombeiros precisaram pedir uma ferramenta aos comerciantes para desobstruir o ponto de conexão das mangueiras. Quando começaram a apagar o fogo faltou água!
A chama tomou tamanha proporção que, de alguma forma, passou para uma das janelas na lateral da Ordem 3ª do São Francisco, informa Joel. Por sorte, esse foco no templo foi imediatamente debelado. Quem acabou apagando o incêndio foi, na realidade, a água de dois carros pipa, solicitado com urgência pelos bombeiros à Embasa.
Joel perdeu todas as suas economias e até hoje nenhum órgão público se pronunciou. A igreja a proprietária da casa não iniciou a reforma, tão pouco tem planos para tal, mesmo havendo sido notificada pelo IPHAN e IPAC.

Com esse ocorrido, ficou o aviso sobre o perigo de incêndio nessa Igreja ou na vizinha - a Igreja de São Francisco. Torna-se desnecessário lembrar que, caso o fogo tivesse se alastrado e destruído um desses imóveis seria uma perda inestimável não apenas para Salvador, como também, para toda a humanidade. E a Catedral? A N.ª S.ª do Rosário dos Pretos? São Pedro? São Domingos? E as centenas de outras construções espalhadas pelo Centro Histórico de Salvador?
Infelizmente nada mudou. O poder público não fez nada para prevenir outras ocorrências e nada disso foi publicado em jornais. O ocorrido, se divulgado em sua integra, serviria de alerta documental, às autoridades e à sociedade, que ficariam cientes da problemática e risco da destruição de imóveis reconhecidos e declarados Patrimônios da Humanidade, dos quais somos responsáveis.