sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Nós, os animais brutos

Texto e foto: Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

O mundo foi surpreendido há pouco tempo pela revelação de que um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global é a criação de gado. Além disso, para se produzir um quilo de carne é necessário uma grande quantidade de alimento que, por sua vez, demanda um enorme espaço físico para sua produção. Se o mesmo espaço fosse utilizado na produção de grãos para a alimentação humana, não teríamos fome no mundo e, de quebra, diminuiríamos o buraco na camada de ozônio.

Também não atentamos para a forma como os animais são transportados e a falta de sensibilidade com que são abatidos. Se as pessoas tivessem a possibilidade ou a coragem para assistir o sofrimento desses animais, pensariam duas vezes antes de saborear um churrasco, por exemplo.

Em diversos países, o transporte e abate dos animais é feito sob rígido controle. Os animais não devem sofrer, ou melhor, seu sofrimento deve ser minimizado ao máximo. O transporte de carga viva é controlado pela própria população, que exige informações sobre a procedência da carne - o que obriga a fixação de placas informativas nos estabelecimentos comerciais. O motivo é não provocar estresse e sofrimento desnecessário, com longos períodos de transporte dos animais, que comprometem, inclusive, a qualidade da carne.

Aqui no Brasil, ainda se discute se animal doméstico tem direitos, quais são, e não conseguimos, sequer, legislar sobre o assunto. Somos, de tempos em tempos, surpreendidos com imagens chocantes de maus tratos aos animais.

Animais domésticos são abandonados nas ruas e estradas. Pessoas que deveriam servir de espelho para o povo são surpreendidas praticando “esportes” como rinha de galo, que é proibida no Brasil. Outros se divertem com “briga de cachorros” ou de “canários da terra”, também proibidos em nosso país. Bois são soltos nas ruas, perseguidos e feridos. Alguns acham engraçado atiçarem cachorros contra gatos. A lista de perversidades, denotando a falta de sensibilidade e a pouca fiscalização do poder público é enorme.

Não podemos esquecer, também, as vultuosas somas de dinheiro que correm na prática de alguns destes “esportes”, denominados por seus praticantes como “cultura” e que, segundo eles, como tal, não deveria ser proibidos.

Pergunto-me, então, os gladiadores também não eram cultura? O que houve com eles? É simples a resposta: evolução da civilização, pois certas coisas, realmente, já eram. Não tem mais espaço nos dias atuais.

O desenvolvimento da civilização e novos conhecimentos apontam para constantes debates éticos sobre o assunto. Se não houvesse evolução, estaríamos ainda, com certeza, nos matando publicamente nas arenas para o deleite de alguns.

Não estou querendo convencer ninguém a deixar de comer carne, muito embora acredito ser esse o futuro. Estou apenas tentando provocar uma reflexão sobre o assunto e também sobre o direito dos animais, independentemente de serem eles, domésticos ou silvestres. São todos seres vivos que sentem dor, que têm direto a vida e, se necessário, a uma morte digna, com o menor sofrimento possível.


Cachorro na Praça da Sé-Salvador, em 26/02/2010.



Alguns textos de personalidades conhecidas:

"Todos os seres vivos buscam a felicidade; direcione sua compaixão para todos."-Mahavamsa (Budista)

"Nossa tarefa deveria ser nos libertarmos ... aumentando o nosso círculo de compaixão para envolver todas as criaturas viventes, toda a natureza e sua beleza." - Albert Einstein (fisico, Nobel 1921)

"Não comer carne significa muito mais para mim que uma simples defesa do meu organismo; é um gesto simbólico da minha vontade de viver em harmonia com a natureza. O homem precisa de um novo tipo de relação com a natureza, uma relação que seja de integração em vez de domínio, uma relação de ser dentro dela em vez de possuí-la. Não comer carne simboliza respeito à vida universal." Pierre Weil

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A ditadura do carnaval

Magda Kaufmann
magdakaufmann@hotmail.com

Semanas antes do carnaval o caos já começa a se instalar em Salvador. O trânsito fica insuportável em virtude do vai e vem de veículos transportando material para tapumes, camarotes, decoração, entre outros. A cidade fica engessada.

Mas, é durante o festejo que o cidadão, residente próximo e na passagem dos trios, é obrigado a abandonar sua casa ou a conviver com o mau cheiro de lixo, dejetos humanos e com o barulho ensurdecedor dos trios. Pessoas idosas ou doentes? Pouco importa. Ninguém pergunta se têm condições físicas, psíquicas ou financeiras para saírem durante uma semana de seus lares. O direito de ir e vir não se aplica aos que residem no percurso da festa.

Eu sempre me pergunto se é justa a ditadura do carnaval. Se não seria possível conciliar a alegria da festa, com o bem estar e o respeito aos direitos do cidadão, os quais são, praticamente, suspensos durante o reinado momesco.

É sempre estranho verificar como tudo tem dois pesos e duas medidas, de acordo com as épocas ou conveniências. Há poucos dias, duas turistas foram abordadas no Porto da Barra por estarem de topless... E o que acontece no carnaval? São seios diferentes?

Um grupo de turistas, no aeroporto do Rio de Janeiro, foi preso e processado por terem ficado de roupas intimas em um canto do saguão, enquanto trocavam de roupa. Foi um verdadeiro absurdo, digno de noticiário nacional e internacional. Quanta moralidade!

O nudismo é diferente durante o período do carnaval? Ou tudo isto é uma grande hipocrisia?

O cidadão deve obedecer leis durante todo o ano. Ele também deve ser respeitado durante todo o ano. Uma festa não pode e não deve motivar a suspensão dos direitos e das leis de uma convivência social. Não podemos admitir que a alegria de alguns se transforme no inferno de outros.

Estranhamente na mídia, só se ouve falar da alegria, da música e só se contabilizam os lucros. A cobertura jornalística não aborda e, parece até temerosa, em colocar para a opinião pública, o outro lado. O lado do silêncio, do sofrimento, dos prejuízos, das mega quantias investidas. Estes são esquecidos, omitidos ou relegados a um segundo plano.

Nem todo comércio pode festejar a passagem do carnaval. Muitos passam por graves problemas financeiros. Vem seus estabelecimentos fechados ou paralisados durante uma semana, em um mês que já é curto. Como fazer frente às despesas fixas?

Acredito que toda essa problemática, dentre outras, deva ser levantada pelos formadores de opinião e colocada para reflexão geral. É preciso enxergar o outro lado da festa. Chega de macro cobertura jornalística, onde tudo é oba-oba.

E, por último não vamos esquecer que o seu direito termina onde começa o do próximo!