Magda Kaufmann
Salvador recebeu nos primeiros meses desse ano o título de capital mais barulhenta do Brasil, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). O fiel da balança foi os decibéis produzidos durante o carnaval pelos trios elétricos. Mas, não é só o carnaval que produz agressões sonoras. Só em 2008 a Sucom (Superintendência de Controle do Uso e Ordenamento do Solo do Município), recebeu 35.074 queixas referentes à poluição sonora. São praticamente 100 registros diários.
A poluição sonora passou a ser considerada pela OMS, uma das três prioridades ecológicas para a próxima década. Para que o ouvido do ser humano funcione normalmente até o fim da vida, a intensidade do som a que ele é exposto, não deve ultrapassar os 70 decibéis, que equivale aos sons produzidos durante uma conversação.
Em Salvador a Lei no 5.354, de 1998, que determina os índices de utilização sonora, limita em 70 decibéis o nível de ruído entre 7 e 22 horas e das 22 às 7 horas, o volume deve ficar abaixo dos 60 decibéis. Quando o índice não é respeitado, a lei prevê multas que vão de R$ 480 a R$ 91 mil, interdição do local e até mesmo a apreensão do equipamento sonoro.
O médico Eduardo Moraes Baleeiro, especialista em otorrinolaringologia e professor universitário, com mais de 30 anos de experiência profissional na área, ressalta que o sistema auditivo nunca descansa. Ele é também responsável pela sobrevivência, alertando o animal de perigo eminente ao registrar algum ruído. Na natureza o volume de som constante e com alto grau de decibéis, só é encontrado em grandes quedas d’água, e, em suas proximidades não existe vida animal, lembra Baleeiro. Ele critica ainda os aparelhos como Ipod, Mp3, Mp4 e rádios acoplados ao celular que na sua maioria não possuem um sistema que permite identificar com precisão o volume do som, só se o som está alto ou baixo.
A poluição sonora não causa somente desconforto. Ela traz comprovadamente sérios danos à saúde entre os quais: estresse, distúrbios físicos, mentais e psicológicos, danos definitivos no aparelho auditivo, além de sintomas secundários como: aumento da pressão arterial, dor de cabeça, paralisação do estômago e intestino e até mesmo impotência sexual. Segundo Baleeiro, o zumbido, mal terrível, é o primeiro sintoma de agressão ao aparelho auditivo, e não é apenas o volume, mas o tempo de exposição ao barulho, um dos mais importantes fatores da poluição sonora.
Os soteropolitanos sofrem com as agressões sonoras, sentem-se prejudicados pela falta de respeito e educação das pessoas e empresas que não têm consciência coletiva, obrigando a população ao convívio com este abuso. Marcos Carvalho Nuñez, consultor de vendas, residente no Canela, conta que quando morou durante dois anos em uma pequena cidade do interior baiano, sempre que vinha a Salvador, sentia-se mal em virtude do barulho da cidade e que as dores de cabeça eram constantes.
Já Renner Massa, comerciante, afirma que Piatã, bairro onde mora, é tranqüilo. Só tinha problema durante os festejos de Itapuã com o barulho dos trios elétricos, que foram abolidos este ano. Porém é no trabalho, na Praça da Sé, que ele se sente irritado com a presença do som alto de alguns veículos passantes e dos vendedores de café. Segundo ele, o volume de som é tão alto que às vezes não consegue se concentrar em uma simples conta matemática. Estes vendedores de café e CD’s pirata têm verdadeiros mini-trios elétricos e permanecem na frente dos estabelecimentos a qualquer hora do dia ou da noite com o som na altura máxima. É simplesmente insuportável, diz Renner.
A poluição sonora passou a ser um problema ambiental e seu controle foi transferido para a Secretária do Meio Ambiente. O telefone para contato é 2201 6660 e funciona 24 horas. Ao registrar sua reclamação solicite o número de registro da queixa para que possa acompanhar o processo.
Não esqueça que a perda de audição é gradativa. Uma pessoa só vai perceber a deficiência depois de muito tempo. O silencio é um dever de todos e direito do cidadão.
Só como curiosidade alguns números:
Torneira gotejando (20 db)
Conversa tranqüila (40-50 db)
Escritórios (60 a 65 db)
Secador de cabelo (90 db)
Discoteca (100 db)
Caminhão (100 db)
Buzina de carro (110 db)
Motocicleta (120db)
Show musical, próximo as caixas de som (acima de 130 db)
Decolagem de avião (150 db)
Tiro de revólver (150 db)
domingo, 12 de julho de 2009
Assinar:
Postagens (Atom)